domingo, 15 de fevereiro de 2015

AS REGRAS DO ECOTURISMO



O Ecoturismo é uma das atividades turísticas mais prazerosas que uma pessoa pode experimentar. Ir a lugares onde pouca gente vai, experimentar sensações intensas junto à natureza e olhar de perto as belezas naturais de uma região são experiências únicas. Mas claro, da mesma maneira que alguém que visita grandes cidades turísticas corre alguns riscos (acidentes, assaltos, etc), as atividades de ecoturismo e de turismo rural oferecem algum eventual risco aos visitantes, como escorregões, insolação, afogamento ou contato com animais peçonhentos.

Em mais de 30 anos de contato com a natureza, nunca tive um único acidente ou contratempo, provavelmente porque sempre respeitei algumas regras de segurança que foram fundamentais para a minha segurança. Segue aqui as principais (e valiosas) regras para os ecoturistas.

- Procure utilizar guias e agências autorizadas a operar com ecoturismo. Isso vai lhe economizar tempo e vai ajudar você a evitar problemas. Verifique sempre se o guia conhece bem a região e se ele tem treinamento em primeiros socorros e kit de primeiros socorros.

- Sempre leve uma mochila com água, repelente, protetor solar, telefone (ou rádio), apito, lanterna e algum alimento. Também é indicado você levar um kit de primeiros socorros e alguns medicamentos básicos para o caso de algum acidente ou mal estar.

- Leve sua máquina fotográfica e registre as belezas naturais dos locais que visita.

- Nunca, em hipótese alguma, deixe resto de alimentos, latinhas de refrigerante/cerveja ou qualquer tipo de lixo nos lugares que você visita. A poluição é algo abominável e indesejável em qualquer passeio ecológico. Sempre leve sacolas plásticas para recolher o seu lixo e o descarte somente em lugares apropriados (longe da natureza).

- Sempre use roupas e calçados apropriados para o tipo de passeio que você vai fazer.

- Música alta além de não combinar com ambientes naturais, só demonstra que você não respeita o gosto ou a paz das outras pessoas. Use fones de ouvido!

- Honre e preserve seu bom humor e esteja sempre disposto a colaborar. Na natureza somos muitos mais fortes quando estamos unidos. E ninguém quer fazer um passeio no meio do mato com uma pessoa “mala”.

- Se informe sobre a previsão do tempo e leve roupas adequadas. Chuvas são especialmente perigosas para quem vai visitar cachoeiras e canyons.

- Procure fazer passeios e trilhas adequadas ao seu preparo físico. Muitos dos locais bonitos que vemos nas fotos só são acessíveis por trilhas que exigem algum esforço físico.

- Não se arrisque em trilhas com pessoas desconhecidas ou despreparadas. A inconseqüência e a ousadia são grandes atalhos para grandes problemas.

- Em lugares de mata fechada ou de difícil acesso, recomenda-se o uso de bússola e mapa ou carta topográfica.

- Só pratique ecoturismo em trilhas e locais oficiais, devidamente mapeados.




- Avise amigos ou familiares sobre os passeios que vai fazer e a que horas pretende voltar. Isso pode ajudar muito se você tiver algum problema. Se ninguém souber onde você está, ninguém pode organizar um resgate.

- Em caso de problemas, mantenha a tranqüilidade, procure acalmar os mais nervosos e nunca divida o grupo. Procure acompanhar o leito dos rios, se preciso use como referência o barulho das corredeiras e cachoeiras. Os rios sempre levarão você fazendas ou a povoados.

- Se você tem um jeep ou camionete 4x4, evite andar fora das estradas. Assim você evita atropelar pequenos animais silvestres e a danificar tocas ou resquícios arqueológicos.

- Nunca leves drogas ou bebidas alcoólicas em passeios pelo mato ou em lugares que tem cachoeiras ou rios. Além de ser uma tremenda imprudência, é algo incompatível com esse tipo de passeio. Pessoas alcoolizadas ou drogadas cometem mais erros, são mais arrogantes em relação a natureza e deixam muito mais sujeira por onde passam. Deixe para tomar aquela cervejinha no momento em que você retornar para casa ou para a pousada.

- Respeite a natureza acima de tudo e minimize os impactos ambientais causados pelo seu passeio.
Nunca mate qualquer tipo de animal ou de planta. Toda e qualquer espécie é muito importante para o equilíbrio do meio ambiente.

- Não mergulhe em locais que você não conhece nem fique pulando de cachoeiras. O número de acidentes fatais nesse tipo de “brincadeira” é muito mais alto do que você imagina.

- Procure comprar comidas e mantimentos nas comunidades que você visita. Além de contribuir para o desenvolvimento dessas comunidades, você provavelmente consumirá alimentos mais saudáveis e naturais.

- Nunca, em hipótese alguma, faça fogueiras ou jogue cigarros em locais de vegetação seca. As queimadas matam centenas de animais, aniquilam florestas e podem colocar sua própria vida em risco.




Da natureza nada se tira a não ser fotos.
Nada se deixa a não ser pegadas.
Nada se leva a não ser recordações.




quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CACHOEIRA DA PARIDA (MG)




Alguns lugares são tão bonitos e tão importantes por suas riquezas naturais que deveriam ser transformados em santuário. A Cachoeira da Parida, uma das quedas d´água mais lindas da Serra da Canastra, definitivamente é um desses lugares. Ironicamente essa cachoeira e seus poços de águas cristalinas estão localizados fora do Parque Nacional da Canastra. Mas quem liga para isso? A Parida tem uma beleza natural exuberante, fontes de água mineral, piscinas naturais de águas transparentes, trilhas para caminhadas e uma das mais belas cachoeiras de Minas Gerais. 

A vida ao ar livre e o contato com a natureza selvagem e preservada é o que de melhor a Serra da Canastra oferece. Você pode observar tucanos, tamanduás-bandeira e uma grande quantidade de aves e de animais silvestres. Com alguma sorte é possível avistar até um lobo-guará ou uma onça parda (na parte alta da cachoeira). A riqueza natureza do local realmente impressiona e as cachoeiras são verdadeiras jóias escondidas entre as pedras e a mata. Segundo o Seu Manoel Peres, o proprietário do local, só existem águas com esse nível de transparência em Bonito (MS), na Chapada Diamantina (BA) e na Cachoeira da Parida (MG). As águas são cristalinas 365 dias por ano, mas dependendo da época pode variar um pouco a sua tonalidade.


A Cachoeira da Parida leva esse nome por causa de uma antiga história que conta que uma escrava grávida teria dado a luz ali, na beira do córrego. Como a criança foi parida no local, o apelido pegou e a lenda ficou perpetuada no nome da cachoeira. 


O acesso até o local não é difícil e fica a aproximadamente 75 km do aeroporto da cidade de Araxá. Para quem procura paz, sossego e água pura, é uma ótima pedida. Pelo que li, além da cachoeira da Parida a cidade de Sacramento tem mais de 200 cachoeiras catalogadas.





Diz o Seu Manoel que foi o avô dele quem tirou os índios do local e os levou para o Mato Grosso porque os índios roubavam as plantações da família. Na parte alta da Parida ainda existem algumas pinturas rupestres deixadas pelos índios que habitaram a região no passado. Solitário e apaixonado pela natureza, o Manoel toma conta daquelas terras como ninguém. Contador de histórias, adora pregar uma peça e tem sua casa rodeada de tucanos, canários, maritacas e tamanduás. Diz ele que até discos voadores aparecem por lá. O Seu Manoel só fica bravo quando alguém aparece ali para caçar, pescar ou para colocar som alto. Quem desobedece às regras é colocado pra fora do local e o IBAMA é acionado, afinal o que todos valorizam ali é a integração e comunhão com a natureza. Caçadores, pescadores e bagunceiros não são bem vindos no local.




A Parida fica localizada na borda do Parque Nacional da Serra da Canastra, entre os municípios de Tapira, Sacramento e São Roque de Minas. De um pequeno cânion incrustado nas rochas, brotam duas quedas d´água que formam um grande poço de águas profundas e cristalinas. Ali fica a Cachoeira da Parida. As águas dessa cachoeira serpenteiam pelas pedras e formam uma segunda queda d´água, mais abaixo, que cai em uma segunda piscina, também profunda e de águas verdes, chamada de "Poço do Macaco". O nome vem do formato da pedra que fica do lado esquerdo da queda e que lembra um macaco (embora muitas pessoas digam que enxergam ali uma pedra com forma de urso ou de um tubarão). Já próximo da casa do seu Manoel, o pequeno riacho forma uma piscina natural de águas incrivelmente transparentes que mais para frente deságua no Rio das Velhas que depois se transforma no Rio Araguari e vai até o sul do Brasil. A importância dessas águas é vital não só para a preservação da riquíssima fauna e flora da região, como para todo o Brasil, já que faz parte de uma importante bacia hidrográfica.




Tanto o poço da Cachoeira da Parida quanto o Poço do Macaco são bastante profundos. Algumas pessoas me falaram que ali tem mais de 6 metros de profundidade, e acredito que tenha mesmo. Mas sinceramente, ainda não fiz a medição.






COMO CHEGAR

Você pode chegar à Parida via Sacramento ou pela cidade da Tapira. Eu fui pela Tapira. Saindo de Araxá, peguei o trevo que leva a cidade da Tapira. São 50 km de Araxá até lá. Dali se pega uma estrada de terra que segue mais uns mais 25 km até a Cachoeira da Parida. 


A melhor maneira de ir até a Parida é com um guia especializado. O caminho até lá tem diversas bifurcações e quem não conhece a região pode se perder bem fácil. Com os serviços de um guia especializado você chega mais fácil, mais rápido e ainda recebe informações úteis e interessantes sobre o local.






DICAS



A piscina natural fica bem próxima a casinha do Seu Manoel. È possível chegar de carro até ela sem dificuldade. Ideal para todas as idades.

Para os que procuram a cachoeira, uma pequena trilha leva até o Poço do Macaco, uma pequena queda, de no máximo 3 metros de altura. Essa queda já é bastante proveitosa, mas ainda não é a cachoeira da Parida. Para chegar lá é preciso atravessar esse poço nadando e escalar a pequena queda. Depois é só seguir o curso d´água que serpenteia pelo cânion até chegar na queda maior. O lugar é de uma beleza indescritível. Duas quedas com cerca de 20 metros de altura despejam suas águas num poço de águas cristalinas. A caminhada não é difícil, mas é feita pelas pedras, o que exige bastante das pernas. E para voltar ao poço dos Macacos, o salto de 3 metros de altura é obrigatório. Descer pela cachoeira é bem mais perigoso. Eu diria que esse é um passeio de nível fácil até o poço do macaco e médio até a cachoeira.

Vale a pena levar óculos de mergulho e até nadadeiras. O mergulho ali é de uma visibilidade fora do comum.  Repelente, água, frutas, máquina fotográfica, protetor solar e boné são sempre aconselháveis.

Nunca deixe latas de cerveja, restos de comida ou qualquer tipo lixo no local. Se você procura cachoeiras onde se pode beber e fazer churrasco, a Parida não é o seu lugar.

A água é sempre cristalina e sempre gelada. Embora o gostoso seja sentir a água gelada, uma roupa de neoprene (wetsuit) pode tornar seus mergulhos bem mais duradouros e confortáveis.


As portas da casa do Seu Manoel estão sempre abertas e ele vai convidar você para tomar um café. Ali na fazendinha ele produz e também vende o famoso Queijo da Canastra. Com toda certeza, um dos melhores queijos do Brasil.


Não fique pulando das pedras. Saltar das cachoeiras é sempre uma atividade de grande risco e muitas pessoas ficam em cadeiras de roda por causa disso.

Outra dica importante: evite ir à cachoeira durante a época de chuvas (verão). O risco de encarar uma tromba d´água é grande e como a cachoeira fica em um cânion, não há como fugir. É sempre aconselhável observar o nível da água utilizando uma pedra ou graveto como referência. Se o nível da água subir, mesmo que seja só um pouquinho, saia do local imediatamente. Às vezes chuvas que caem a muitos quilômetros de distância podem triplicar o volume de água na cachoeira em questão de segundos. Fique esperto.





VALOR


Para passar o dia na Cachoeira o Seu Manoel cobra o valor de R$ 10,00 por pessoa.

Aos interessados, lá ele vende o famoso queijo da canastra por R$ 30,00 a peça (aproximadamente 2 kg).



A região é muito procurada por esportistas e por amantes da natureza

Cachoeira da Parida

Mergulho nas piscinas naturais da Parida

A caminhada até a cachoeira é feita através de um canyon. Evite ir em dias nublados e nunca vá em dias de chuva.

Cachoeira da Parida em um dia com bastante água



Detalhes da estrada que leva até a Parida

Na volta da Cachoeira o salto no Poço do Macaco é obrigatório

Seu Manoel Peres em lua lida diária

Ovo caipira, orgânico e fresquinho

A famosa pedra do macaco

Produção do famoso Queijo da Canastra

 A água é tão clara que engana. Parece uma fina lâmina d´água, mas tem um metro de profundidade.

Poço do Macaco

A queda do Poço do Macaco vista de cima


 Dois ângulos da piscina natural da cachoeira da Parida

O autor desse texto, aproveitando a vida.

Não deixe nada além de pegadas;
Não tire nada além de fotos;
Não mate nada além de tempo.
AJUDE A PRESERVAR E A PROTEGER ESSE LUGAR.

Texto, fotos (GoPro) e videos: Dadá Souza